Mundo
Nobel da Paz entre os prisioneiros libertados pela Bielorrússia após acordo com os EUA
O ativista bielorrusso Ales Bialiatsk, um dos laureados com o Prémio Nobel da Paz em 2022, foi um dos 123 ativistas libertados por ordem do presidente Alexander Lukashenko, após um acordo com os Estados Unidos.
De acordo com organizações de Direitos Humanos, os 123 prisioneiros foram libertados em troca do levantamento de sanções norte-americanas contra a Bielorrússia.
Um dos ativistas libertados é Ales Bialiatsk, laureado com o Nobel da Paz em 2022. Em declarações na chegada a Vilnius após ter sido libertado, Bialiatsk sublinhou que ainda na noite passada se encontrava "no beliche de uma cela" com outros 40 prisioneiros.
"E agora estou em liberdade. É claro que as sensações que tenho agora são um pouco confusas", afirmou o ativista, citado pela agência EFE.
Na chegada a Vilnius, na Lituânia, o ativista libertado encontrou-se com a líder da oposição bielorrussa, Sviatlana Tsihanouskaya. "Maravilhoso receber [o] defensor dos direitos humanos e laureado com o Prémio Nobel da Paz, Ales Bialiatski, finalmente em liberdade", escreveu nas redes sociais.
Também o Comité Nobel norueguês reagiu à libertação, expressando "profundo alívio e sincera alegria" com a notícia de Ales Bialiatski.
A libertação de Ales Bialistski e dos restantes ativistas "é um momento profundamente bem-vindo e há muito esperado", referiu Jorgen Watne Frydnes, presidente do comité norueguês em declarações à agência France Presse.
"Mais de 1.200 prisioneiros políticos continuam atrás das grades na Bielorrússia, e a sua detenção é uma ilustração clara da repressão sistémica que ainda decorre no país", acrescentou, apelando às autoridades bielorrussas para que libertem "todos os presos políticos".
Agradecimento a Washington
A conta Poul Pervogo, afiliada à presidência bielorrussa na plataforma Telegram, adianta que o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, perdoou "123 cidadãos de diferentes países" após conversações com os Estados Unidos, que anunciaram hoje o levantamento de algumas sanções comerciais contra a Bielorrússia, nomeadamente ao setor do potássio.
O enviado especial dos EUA para a Bielorrússia, John Coale reuniu-se na sexta-feira e hoje com Alexander Lukashenko para conversações na capital bielorrussa, Minsk.
Lukashenko governa a Bielorrússia desde 1994, sendo o primeiro e até hoje o único presidente do país. Tem sido repetidamente sancionado não só devido à repressão política de opositores, mas também pela relação próxima com Moscovo, sobretudo por ter permitido a utilização do seu território na invasão da Ucrânia, em 2022.
No entanto, Minsk está à procura de melhorar as relações com Washington e já tinha libertado centenas de prisioneiros desde julho de 2024.
Em declarações à agência Reuters, o enviado especial dos Estados Unidos para a Bielorrússia, John Coale, indicou que os cerca de 1.000 prisioneiros políticos que continuam detidos na Bielorrússia poderão ser libertados num grande grupo no decorrer dos próximos meses.
"Acho mais do que possível que alcancemos isso, acho provável. Estamos no bom caminho, o ímpeto está aí", considerou.
Acrescentou ainda que, sem qualquer prisioneiro político no país, grande parte das sanções poderia ser suspensa. "Penso que é uma troca justa", acrescentou o enviado norte-americano.
Numa mensagem publicada na rede social X, a líder da oposição bielorrussa, Sviatlana Tsihanouskaya agradeceu aos Estados Unidos pelos esforços na libertação destes ativistas.
"Agradeço ao Presidente Trump e ao enviado especial John Coale e a toda a Administração dos EUA pelos seus grandes e incansáveis esforços que levaram à libertação de 123 presos políticos hoje - bielorrussos e cidadãos estrangeiros", vincou.
Sviatlana Tsihanouskaya vive no exílio e foi candidata presidencial nas eleições de 2020 após a detenção do marido. Foi forçada a sair da Bielorrússia no dia seguinte ao escrutínio.
Quem são os ativistas libertados?
Ales Bialiatski, de 63 anos, foi um dos ativistas libertados. Tornou-se um símbolo da resistência ao regime autoritário de Lukashenko ao receber o Prémio Nobel da Paz em 2022, numa altura em que já se encontrava detido.
Bialiatski tinha sido detido em 2021 e dois anos depois foi condenado a dez anos de prisão por alegado contrabando relacionado com o financiamento da Viasna, uma organização de Direitos Humanos da qual é fundador.
O ativista negou todas as acusações, insistindo que tinham motivações políticas.
A ativista Maria Kalesnikav, de 43 anos, foi também libertada após as negociações com os Estados Unidos. Destacou-se em 2020 nos protestos nas ruas aquando a última reeleição de Alexander Lukashenko.
Em setembro desse ano, foi colocada à força numa carrinha, levada até à fronteira com a Ucrânia e ameaçada de expulsão "viva ou em pedaços". A ativista respondeu ao rasgar o passaporte para impedir a tentativa de deportação.
Em 2021, Maria Kalesnikav foi condenada a 11 anos de prisão numa colónia penal devido a "atividade extremista" e "conspiração para tomar o poder". Foi ainda incluída numa lsita de "pessoas envolvidas em atividades terroristas".
Viktar Babaryka, de 62 anos, é um ex-banqueiro que foi detido sob acusação de "corrupção" meses antes da eleição presidencial de 2020, após ter tentado concorrer contra Lukashenko.
Maxim Znak, de 44 anos, fazia parte da campanha de Viktar Babaryka, foi condenado em 2021 a dez anos de prisão por "atividades extremistas" e "conspiração para tomar o poder". Tal como Maria Kalesnikav, foi posteriormente adicionado a uma lista de "terroristas" pelos serviços de segurança.
Maryna Zolatava, de 48 anos, era a editora-chefe do site independente tut.by e foi detida em maio de 2021. Dois anos depois, foi condenada a 12 anos numa colónia penal por incitamento ao ódio e a ações que visavam prejudicar a segurança nacional.
Uladzimir Labkovich, advogado de 47 anos, foi detido em 2021 e julgado com Bialiatski. Em 2023 foi condenado a sete anos numa colónia penal.
Entretanto, a Ucrânia confirmou que irá receber a quase totalidade dos 114 prisioneiros libertados pelo presidente bielorrusso, incluindo Maria Kalesnikav, Viktar Babaryka e Maryna Zolatava.
(com agências)